quarta-feira, 1 de junho de 2016

Por que escolhi ser pedagoga?


          Reflexões sobre educação sempre estiveram presentes em minha vida, com algumas pedagogas na família o assunto sempre estava em discussão nos encontros familiares. Além disso, tinha uma paixão por uma professora da escola, Tia Nireire, ela me ajudou a enfrentar o bullying e usava uns carimbos que eu adorava. Esse amor me inspirava a sempre brincar de professora com meus primos ou com as bonecas, até quadro negro meu pai comprou para brincarmos e a borracha pintada com caneta era o meu carimbo. No entanto, minha vontade de ensinar não perpassava as brincadeiras com os primos. 
          Com a 1ª aprovação no vestibular, iniciei o curso de Gestão Ambiental no CEFET em 2002, no ano seguinte ingressei na UFRN no curso de Ecologia, até então, continue me aperfeiçoando na área ambiental. Nesse tempo, mais pedagogas eram formadas na família, inclusive minha irmã, mas a necessidade de conquistar uma estabilidade me fez continuar buscando o crescimento na área que havia iniciado os estudos acadêmicos. Porém, a Educação Ambiental (EA) foi a área que escolhi para atuar durante minhas experiências nas duas graduações. 
          No mestrado comecei a trabalhar na área de Ecologia Humana, ela não tem relação com a EA mas consegue aproximar a pesquisa com o ser humano, e essa relação do homem com a natureza me encanta. Em 2012, após o mestrado tive a oportunidade de ministrar aulas no PRONATEC, foi uma experiência maravilhosa. Já no doutorado, assim como no mestrado, também experimentei a docência na UFRN. Nesse caminho de aprendizagem e experiências educacionais, resolvi fazer o ENEM e buscar a concretização de um sonho: a formação em Pedagogia. Fui muito criticada, todos sabem das dificuldades enfrentadas pelos educadores no país, mas não dei ouvidos, fui a luta e entrei no curso. Aos trancos e barrancos irei concluir meu doutorado e minha nova graduação, e estou determinada e disposta para concluir com sucesso. 
         Confesso que estou encantada com o curso e tem sido tudo maravilhoso, tenho aprendido bastante e conseguido ressignificar diversas memórias escolares. Essa experiência interdisciplinar proposta no 1º semestre tem sido muito enriquecedora e esclarecedora, pois consigo enxergar os verdadeiros significados das práticas educacionais e ter a certeza que tomei a decisão correta. Num futuro próximo, espero concluir o curso com muitas conquistas e conseguir exercer a profissão de pedagoga com muita responsabilidade.


Tia Nireide, ainda atuando como professora no Auxiliadora.

Como eu brincava de professora com as bonecas..

Turma do curso Técnico em Agroindústria, meus alunos durante o ano de 2012.


A presença das teorias interacionistas na minha formação...

       
Lev Vigotsky, Jean Piaget e Henri Wallon, três grandes cientistas da Educação.

          A ilustração acima representa os diferentes olhares para a sala de aula segundo os teóricos da Psicogenética. Diferente dos educadores que se baseiam, exclusivamente, no conhecimento inato ou no conhecimento adquirido, os três teóricos acima utilizavam a interação desses conhecimentos para pesquisar o desenvolvimento cognitivo e o aprendizado das crianças. Eles acreditam que tudo que nos rodeia, tanto o natural quanto o social, associado às nossas experiências e interações, e com a ajuda do professor mediador, proporcionam a aprendizagem e o desenvolvimento. 

       Para Piaget, o conflito cognitivo, ou seja, a reconfiguração dos pensamento, torna-se fundamental. Ele acredita que o professor deve gerar a guerra dos pensamentos, pois a partir do erro a criança pode avançar, porém, faz-se necessário o fornecimento do elemento novo. Assim, ao atingir a equilibração o sujeito consegue viver em equilíbrio cognitivo com o mundo ao redor. No entanto, para que isso aconteça, o professor deve ouvir o aluno em sala de aula, permitindo interrupções durante as explicações do conteúdo e compreendendo que os alunos também detêm conhecimento para ser compartilhado. Isto é, a existência do diálogo é fundamental para a aprendizagem! Como os professores podem atingir esse objetivo? Através do Construtivismo os educadores podem alcançar as interações desejadas para uma boa aprendizagem. Como, por exemplo, planejando aulas de campo, experiências dentro e fora da sala de aula, passeios, dentre outros. No Auxiliadora, essas atividades foram bastante presentes durante o ensino infantil e no começo do fundamental. Tenho lembranças da experiência com o pezinho de feijão e das idas ao sítio para realizarmos atividades lúdicas sobre o meio ambiente. Porém, interações mais próximas entre professor e aluno, pautadas na motivação para aprender, não eram frequentes no ensino fundamental.

Atividades presentes durante o meu ensino infantil: aula prática na natureza e experiência com feijão.

                   


          O texto de Bogdan e Biklen (1994), utilizado na disciplina de Seminários de Pesquisa I, ressalta a importância da investigação no dia-a-dia dos profissionais de educação, os autores acreditam que estes podem ser mais eficazes se utilizarem a investigação qualitativa no trabalho escolar. Através de uma abordagem qualitativa, os alunos participam ativamente da construção do mundo real e da sua realidade, podendo promover modificações no seu comportamento e no dos outros. As considerações acima vão ao encontro das premissas construtivistas propostas por Piaget, as quais evidenciam as vivências para se atingir o sucesso no processo de aprendizagem. 
       Levando em consideração os pensamentos de Lev Vygotsky, o ser humano não nasce humano, ele se torna humano através dos elementos da cultura no qual está inserido. Como visto nas aulas de Antropologia, o homem, através de ações modificadoras no meio em que vive, cria, racionalmente, todos os instrumentos necessários (gestos, símbolos, etc.) para estabelecer as relações sociais. Para Vygotsky, através desses instrumentos, agindo internamente e externamente, a aprendizagem se processa nessa interação do homem com o mundo. Nesse contexto, ele afirma que aprendemos primeiro com o outro para podermos fazer sozinhos o que aprendemos, esse pensamento deu origem ao conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP). A ZDP está entre o que a criança já aprendeu, sozinha ou com a colaboração de outros, e aquilo que ainda não aprendeu, mas está próximo de ser aprendido; é a zona na qual o professor deve agir para proporcionar a aprendizagem do aluno. Na escola, as ideias de Vygotsky só poderão ser alcançadas através do diálogo e troca de experiências entre professores e alunos.  Lembro que essas interações foram mais frequentes no ensino infantil, no fundamental os professores adotavam uma postura muito tradicional e baseada na teoria Comportamentalista. Essa postura focada no ensino bancário acabou moldando o comportamento dos alunos que agiam de forma recatada e passiva em sala de aula.

       Pensando nas premissas da teoria de Henri Wallon, as quais consideram, além do cérebro, o corpo e a emoção da criança (a criança completa), me recordo de algumas lembranças positivas da escola. Na minha trajetória escolar, especificamente na educação infantil, era comum as atividades interativas que exploravam o movimento (físico e intelectual) dos alunos. Sempre tinha diversas atividades grupais e interativas explorando ambientes diferentes da escola, como: aula de música e de dança, brincadeiras em grupo, peças de teatro, etc. Acredito que essa postura proporcionou o desenvolvimento satisfatório para muitas crianças da minha época escolar, espero que atualmente ainda sejam adotadas na escola.

       Por fim, considerando todas as teorias da educação aprendidas até agora, percebo que a ideia de escola que existia em minha cabeça era um pouco diferente. Pensando como uma futura pedagoga, observo o mundo que existe por trás das teorias e do cotidiano escolar, e acredito que precisamos aprender a lidar com a diversidade de alunos, com pensamentos e interpretações de mundo diferentes. O processo de escolarização de uma criança deve englobar o respeito e a convivência com as diversas formas de pensar, precisamos transmitir um conjunto de valores sociais essenciais e inerente à realidade dos diversos grupos sociais. Aqui, deixo o conselho para refletirmos sobre nossa postura como futuros educadores e nossas práticas educativas no processo de formação de estudantes.

Será que essa seria a única forma?!?






A vida escolar de uma filha de militar

          Desde o maternal até o final do ensino fundamental a presença do meu pai em minha vida se resumia nas férias do meio e final de ano. Por ser militar (Marinha), sempre estava viajando ou era transferido para morar em outra cidade. Até o terceiro filho minha mãe o acompanhou nas transferências pelo país, mas a partir do quarto (eu, a primeira menina) ela resolveu se estabelecer em Natal. Desta forma, meu pai morava sozinho em outra cidade e nos visitava apenas nas férias. Essa situação acabou afetando um pouco nossa formação escolar, pois nunca meu pai estava presente na festa do dia dos pais ou em outra confraternização da escola em que o pai poderia participar. Como ele nunca podia, minha mãe sempre buscava uma alternativa para suprir nossa vontade de ter meu pai perto, como, por exemplo, fazendo fotografias que mandávamos pelo correio junto com uma cartinha.
Tenho muitas recordações das festinhas nas quais, eu e meus irmãos, entrávamos sempre com minha mãe ou algum tio que representava meu pai. Porém, em uma das festas do dia dos pais, meu pai conseguiu comparecer e fiquei muito feliz em poder entrar de mãos dadas com ele. Foi um dia muito especial e que eu não poderia esquecer!!! 

        Por outro lado, a ausência do meu pai foi um ponto positivo no desenvolvimento escolar, pois eu não queria adiar as férias e sempre estudava bastante para não ficar em recuperação. Além disso, como ele sempre viajava, trazia muitos presentes, mas, claro, em troca de boas notas na escola. 

         Hoje, rememorando minha trajetória escolar, observo o quanto os fatores externos, nossa família e história de vida influenciam o nosso desenvolvimento e amadurecimento. Penso também como o meu passado tem fortes relações com o meu presente, no qual tenho pavor em precisar morar fora de Natal, longe da minha família. Em 2014 precisei morar 1 ano em Nova Iorque, acompanhando meu esposo no seu doutorado sanduíche, e foi uma experiência bem difícil, apesar de enriquecedora. Me deparo com oportunidades incríveis de bolsas de estudo na minha área de pós-graduação, mas quando imagino que terei que me distanciar novamente acabo desistindo de tentar.. Isso me faz refletir sobre a teoria psicanalítica e suas premissas, como meu inconsciente pode estar explicando esse meu medo de ficar longe da família. 

Meu pai em uma de suas viagens para a África.

Momentos de despedida antes de meu pai embarcar.


A única festa que entrei de mãos dadas com o meu pai.


Lembrança enviada para o meu pai pelo correio.


Só Freud explica..

Sigmund Freud: sonhos e desejos


          Para Sigmund Freud os desejos sempre irão encontrar formas de expressão e as manifestações psíquicas sempre irão possuir um sentido, uma intenção e um lugar na vida do sujeito. Bem como, sempre haverá uma intencionalidade inconsciente e um sentido encoberto nessas ações. Baseada em seus pressupostos, a Teoria Psicanalítica explica que a significância das coisas e fatos, as relações sociais e história de vida da pessoa, inconscientemente, vai ajudá-la a superar seus problemas e as consequências no processo educativo. Assim, Freud acredita que não é possível pensar o desenvolvimento adulto sem considerar o percurso histórico do desenvolvimento psicossexual e o funcionamento psíquico inconsciente. 

          Em minha lembranças, noto que muitos amigos da escola tinham dificuldades de aprendizagem ou de interação social, mas, hoje as vejo como algum bloqueio psicológico. Lembro também que os professores não sabiam ou não queriam lidar com essa situação, pois os alunos não tinham espaço para o diálogo ou talvez não havia confiança entre eles. Como consequência, esses alunos "diferentes" (pois eles se sentiam assim) formavam um grupo, se mantendo distante dos demais alunos. No meu caso, o bullying e as suas consequências, proporcionaram uma maior relação afetiva com os professores. Percebo que a significância que eu dei ao preconceito e a afetividade com os professores me fizeram superar o bullying de forma rápida e confiante. Esse fato reforça a ideia proposta na Teoria Psicanalítica de que as relações entre os professores e alunos não deve ser neutra, a subjetividade deve ser levada em consideração. Além disso, a relação de dependência existente entre crianças e adultos geralmente se expande para o ambiente escolar, tornando necessária uma relação mais forte entre professor e aluno. Minhas relações com os professores proporcionava uma maior participação em sala de aula, seja na execução das atividades, na pontualidade ou na ajuda ao professor, bem como, na vontade de ir para escola.  

          Por outro lado, algumas práticas escolares também podem mobilizar o desejo da criança pelo saber. Na minha trajetória escolar, uma das atividades escolares que mais me mobilizava era a feira de ciências, pois era o momento diferente, com pesquisa participativa e integração com outros alunos e professores. Outras atividades que buscavam ações interdisciplinares também me motivavam. 

         
Feira de Ciências: as sem-terra no projeto com a comunidade das Rocas e as escolas de samba de Natal.


 Pensando em interdisciplinaridade, lembro de Edgar Morin. Em seu livro, Cabeça bem-feita, Morin traz ideias para solucionar alguns problemas que impedem a reforma do pensamento no ensino e educação. Além disso, ele faz uma crítica ao processo de formação, afirmando que cada pessoa tem seu próprio processo e que esse vai além dos conteúdos. Uma outra abordagem trabalhada por Morin trata do desafio da complexidade: precisamos contextualizar os saberes e integrá-los em conjunto na resolução dos problemas atuais (transversais, multidisciplinares e globais).  Desta forma, ele propõe uma Educação para a vida, para além dos conteúdos e de uma formação para o trabalho. E para alcançarmos essa reforma do ensino, precisamos de mais interação entre os saberes, através da multidisciplinaridade, pluridisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade no ambiente escolar e na prática pedagógica.  

"A reforma do ensino deve levar à reforma do pensamento, e a reforma o pensamento deve levar à reforma do ensino." (Edgar Morin)



Turma D, de danados..

Na instituição em que estudei durante toda minha vida escolar aconteciam diversas práticas excludentes, mas na época eu não as enxergava desta forma. Por se tratar de uma escola religiosa, as regras e princípios adotados eram bem rígidos. Durante o ensino fundamental lembro que as turmas eram formadas com base nos rendimentos dos alunos e nas características comportamentais. Tenho lembranças da turma D, onde estavam os meninos e meninas mais “danados” que sempre aprontavam na escola, seja por ter brigado com outros alunos, namorar escondido, faltar a hora da missa semanal ou xingar as freiras no corredor. A criação de estereótipos pelos professores era bem comum, existiam vários “alunos problema” ou “alunos desinteressado”, esses nunca conseguiam concluir o ano pois eram expulsos da escola.

Hoje, após aquisição dos conhecimentos de algumas teorias da psicologia da educação, percebo como os professores da minha escola se ausentavam da responsabilidade no processo de escolarização e humanização desses alunos. Lembro claramente da forma como os melhores alunos eram tratados, como as professoras elogiavam alguns alunos na frente dos pais. No entanto, sabemos que as diferenças existentes entre as pessoas devem ser levadas em consideração. A abordagem Inatista aborda a genética como explicação das pessoas serem diferentes, afirmando que as características humanas são inatas e cada um tende a aprender de forma diferenciada. A carga de conhecimento não irá interferir na inteligência da pessoa, apenas o potencial trazido nos genes. Desta forma, o meio externo (escola, família, professores, etc.) pode ajudar ou não na aprendizagem dessa criança.
Por outro lado, levando em consideração as teorias psicogenéticas, aprendemos que tanto a carga genética quanto as experiências que vivenciamos podem interagir para moldar nosso processo de aprendizagem e amadurecimento. Uma vez que o sujeito se constitui a partir do que ele tem e o que está fora dele, sempre com a mediação do educador  ou outra referência formativa. 

Minha experiência na turma D, a melhor turma da escola.


Todos são diferentes!!